Escrita Cafeína

3 de abr de 2021

Abstração

Queria eu que me enxergasse

Somente quem pudesse me ver.

Fantasma de mim mesma,

No mundo vagando sorrateira

Me esgueirando por trás de

Escuros escudos translúcidos.

Observo o mundo lá fora,

Mas não quero que vejam aqui dentro.

Construo muros ao meu derredor.

De eterno luto me cubro

Com o manto da solitude.

Solidão...

Melhor amiga...

A tudo compreende

E nunca é fingida.

Prefiro sua companhia

À de qualquer carne humana fria.

Quero passar despercebida

De toda alma distraída.

Que não veria outra cousa

Senão o exterior.

Não sei verbalizar o que sou.

As raras palavras que se evadem

Saem de cores e emoções desprovidas

Oriundas de uma alma abatida,

Ferida pela própria desventura de ser.

Motivo pelo qual preciso ser

Ingerida, acolhida e deglutida

Com a intensidade de átomos

Que ao se chocarem

Se explodam e se expandam,

Espalhando luz por todos os poros.

Se não for deste modo

Tampouco me interesso,

Por isso me abstraio

E volvo a ser matéria vaga

Em estado latente,

Com a eternidade toda para aguardar

Por esse outro olhar

Que nada precise falar

Para então me despertar.

Aline Bischoff

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