top of page

Este não é um conto sobre a quarentena



Dani não conseguia tirar os olhos da namorada. O bar estava cheio de gente comemorando o fim da quarentena, mas o brilho de Isa ofuscava tudo, até as lâmpadas de neon colorido. Ela era a coisa mais linda do mundo.

Ainda assim, não tinha sorrido uma única vez naquela noite. Era como se a pandemia tivesse roubado todos os seus sorrisos.

Dani se inclinou para frente para tocar na mão dela, a mão que não segurava há meses. Mas Isa afastou o braço. Então, como se tentasse disfarçar o movimento, ela pegou um guardanapo e começou a brincar com ele, dobrando-o sobre a mesa.

— Nem agora? — murmurou Dani.

— É perigoso... — Isa parecia ainda mais retraída do que antes.

Dani recuou, encostando as costas na cadeira dura. Isa sempre tinha se preocupado demais com essas coisas, mas ficara ainda pior nos últimos tempos, com tudo o que estava acontecendo no país.

Um prato de batatas-fritas desceu sobre a mesa. Isa pegou uma e mordiscou sem interesse, evitando erguer os olhos. Quando ela moveu o braço para apanhar outra, Dani fez o mesmo, e aproveitou para encostar de leve o dedo na mão dela. Fez isso de novo, e de novo, até que um sorriso desabrochou nos lábios da garota. Era a coisa mais linda do mundo.

— Eu te amo — disse Isadora.

— Eu também te amo — respondeu Daniela.


Pedro Guerra Demingos

Posts recentes

Ver tudo

Dona Neuza

Deixe seu comentário:
bottom of page