top of page

Flagrante

Foto do escritor: Escrita CafeínaEscrita Cafeína


Domingo, oito de março.

A caminho do Parque da Água Branca, vou flanando, olhar vagabundo. Esquina de Monte Alegre com João Ramalho. Dois metros a minha frente, sozinha, uma velhota típica, carne magra, tornozelos inchados, vestido comprido florido, bengala. Sapato de saltinho quadrado, andar titubeante, vai atravessar a rua. Não notou a calha que escoa as águas de várias naturezas que entram pelos bueiros ou descem em dilúvio até a Turiassu.

Pisando em falso, ela agita sua bengala, solta um grito, vai desabar para trás. Dou um salto, estico a mão e a agarro. Para ela, que não me enxergara, um segundo susto. “A senhora quer atravessar a rua?” “Sim, vou à igreja Batista, aí em frente.” Ofereço-lhe o braço, damos uns poucos passos. Comenta sua sorte por eu estar ali: tem prótese e, se caísse, acabaria no hospital. “A senhora ia é pro velório...” penso, mas não falo. Abismado, nem perguntei seu nome.

Meu imprevisto Dia da Mulher.


Jorge Claudio Ribeiro

Posts recentes

Ver tudo
Dona Neuza

Dona Neuza

Comentários


Deixe seu comentário:
bottom of page