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O confesso




Não sei se confesso meus pensamentos, tão cruéis e sem propósitos,

Se me apresento como culpado ou invoco o céu.

Insubordinado aos meus sentimentos, revelo-me rude pelas más intenções

e pobre pelo ranço da marginalidade.

No confessionário público, não ouso jurar sobre o livro sagrado e na ¨suiça¨ dos destrambelhados, sussurro pecados suntuosos.

Covarde, cortejo o silêncio entre tantos atrativos de um tribunal e, demandado em juízo, atribuo aos ¨injustos¨ minha condição de réu.

Já saciei minha sede de riqueza e alimentei a fome de pode dos coiós.

Incrédulo, desconfiei dos meus atos, questionei a moral e me contraí¨.

O homem vil só confessou seus delitos asi mesmo. Esvaziou sua alma pesada no monólogo matreiro. Logo, apropriou-se da autopiedade e martirizou-se pela pausa compulsória do seu labor. Foi exemplo de fidelidade aos errantes e, retrospectivo, amargou a doença: uma ferida inflamada em suas mãos. Já não se enxergava no espelho, desaparecia qual a neblina que sobe a cada sol nascente. Gemeu, indiferente a qualquer dor, apenas pelo cansaço de subtrair. Sua última contrição: o contentamento.


Maria Rosa Coutinho

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