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E quando você sente que está sendo deixado para trás?




Um dos meus maiores defeitos, advindo da minha insegurança, é a sensação de que todos estão progredindo na vida, menos eu. Essa sensação me percorre o corpo e me deixa aflita. Como saber se estou preenchendo todo o potencial que me foi dado?

Como numa competição de natação, onde dá-se a largada, e todos nadam e nadam, e por um momento você acompanha, ou tem a sensação de conseguir acompanhar, mas no final sempre está mais distante do que gostaria. E engole a água tentando atingir o patamar do próximo.

Sei que isso é fruto das minhas comparações, que só deixam para trás a mim mesma e envenenam minhas relações. Mas não é porque, hoje, reconheço isso que consigo transpassar essa sensação todas as vezes que me deparo com ela. Na maior parte das vezes, quando distingo essa sensação, quando a percebo atritando o meu interior, o primeiro instinto que irrompe em mim é de suprimi-la, atacá-la, destruí-la. Porque ela dói, ela incomoda, ela me lembra o quão frágil e imperfeita eu sou. E eu não aprecio isto.

O processo de autoconhecimento, apesar de romantizado, não é indolor. Ele perpassa pelo nível de estar em consciência de si, ao ponto de enxergar pontos obscuros que despertam emoções com as quais não aprendemos a lidar ainda. E “ainda”, com certeza, é a palavra chave para o progresso. Por mais incômodo que seja, é melhor aprender a curar o calo, a manejá-lo, remediá-lo, do que deixá-lo crescer indeterminadamente.

A minha sensação de estar para trás tem foco na desconexão a que eu me submeto, ao deixar os parâmetros alheios me definirem. Há um abismo entre se inspirar no outro para ser uma pessoa melhor e olhar para o outro como um competidor. No último caso, utiliza-se as conquistas do outro tanto para se envaidecer, julgando ser melhor, tanto para se menosprezar, julgando nunca conseguir atingir o patamar de evolução desejado. Essas atitudes me afastam do meu verdadeiro eu, e acabam afastando as pessoas de mim também. Porque surge o clima de rixa e desavenças, e que se não controladas, dão espaço à inveja, à ira e à vingança.

Muitas vezes julgamos saber como o outro se sente, baseado em experiências passadas e em comportamentos prévios. E julgamos assim que é melhor estar na pele de outro do que em sua própria, como se o outro fosse a resposta, tivesse a solução de seus problemas, e, magicamente, tudo estaria nos eixos se a vida alheia fosse a minha.

O fato é que nunca apreenderemos o processo de evolução que não o nosso. As sensações são essencialmente subjetivas a cada indivíduo, e ainda que compartilhemos a capacidade humana de sentir, a condição que experimentamos e vivenciamos as emoções do mundo físico é única para cada um. Não é atoa que a mesma realidade pode ser dotada de diversos significados, de acordo com o ponto de vista escolhido.

O parâmetro que deveria ser usado para julgar e compreender nossa própria evolução é, justamente, o nosso “eu” do passado. Se há um competidor, nessa existência, com o qual é válido e proveitoso nos compararmos é o ser que costumávamos ser, e que não mais se manifesta em nossas vidas. Pelo menos, não explicitamente, porque cada fase perpassada habita em nós, embora o processo evolutivo faz com que deixemos para trás certas características, as quais entendemos não nos serem mais úteis. Não se engane, nem sempre acertamos, até porque a evolução é não linear e muitas vezes regredimos um pouco para conseguir atingir o nível desejado.

Se conectar consigo mesmo não é esquecer do mundo exterior, muito menos deixar de sentir o incômodo de nossas imperfeições, mas ao contrário é acolhê-las e encará-las de frente, reconhecendo que não há processo simples, muito menos soluções mágicas. Se pautar no seu interior e permitir uma intenção genuína de mudança, alivia um pouco do peso e da angústia que possa surgir. Além de evitar afastarmos as pessoas, ao invés trazê-las para perto e possibilitarmos que elas participem do nosso processo de forma positiva, ajuda-nos a crescer.



Sara Costa

Instagram: @sarapedreira00


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