O caminhão do frigorífico parou nos fundos do hospital. Uns mortos cedem lugar a outros mortos.
Uns mortos, aqueles, passaram por nossa geladeira, panelas e acabaram fumegando
sobre a mesa.
Têm sorte os outros: agora repousam no caminhão frigorífico, à espera de caixão e transporte até o destino de onde vieram.
Não estão, como esses daqui, empilhados em salas repletas, fedendo ao ar livre ou jogados sobre macas, vizinhos de quem sufoca sua hora.
Mal embalados (esses daqui) em lúgubres sacos plásticos cinzentos, pés à mostra, sozinhos
pingam suas excrescências,
seu criatório de infecção.
(No céu, rondam urubus)
Jorge Claudio Ribeiro
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