top of page

Nacional Jornal

O caminhão do frigorífico parou nos fundos do hospital. Uns mortos cedem lugar a outros mortos.

Uns mortos, aqueles, passaram por nossa geladeira, panelas e acabaram fumegando

sobre a mesa.

Têm sorte os outros: agora repousam no caminhão frigorífico, à espera de caixão e transporte até o destino de onde vieram.

Não estão, como esses daqui, empilhados em salas repletas, fedendo ao ar livre ou jogados sobre macas, vizinhos de quem sufoca sua hora.


Mal embalados (esses daqui) em lúgubres sacos plásticos cinzentos, pés à mostra, sozinhos

pingam suas excrescências,

seu criatório de infecção.


(No céu, rondam urubus)


Jorge Claudio Ribeiro



Posts recentes

Ver tudo

Cavaleiro Negro (Aline Bischoff)

Onde vais pelas trevas impuras, cavaleiro das armas escuras (...) Cavaleiro, que és? – que mistério Que te força da morte no império Pela noite assombrada a vagar? Álvares de Azevedo Por que é que voc

Brinquedos (Alessandra Barcelar)

Lucas e Adalberto escreveram sua carta ao Papai Noel juntos. Empolgados, eles conversaram sobre o que fariam quando recebessem seus brinquedos. Lucas pediu uma bola e Adalberto um carrinho de madeira.

Múltiplas (Valéria Pisauro)

Dentro de mim cadeado, Porta aberta, cárcere privado, Ventre ancestral do tempo, Dentro de mim, muralha, Que a palavra não apaga Chica da Silva, Marielle, Anita, Dandara, Pagu, Maria Quitéria, Maria B

Deixe seu comentário:
bottom of page