Morreu no interior do Ceará um velho senhor de oitenta e dois anos. Morreu no sertão um desconhecido por quase todos, exceto por seus poucos vizinhos e familiares. E logo, quando estes morrerem, o velho senhor terá sido definitivamente esquecido. Toda a sua vida, da ponta da infância à ponta da vetustez, agora se desatava dos nós do destino. Alguém há de se lembrar, por um suspiro efêmero, e até que se esqueça, que o senhor adorava aquela música de Chico César, “À Primeira Vista”, que segundo ele era a canção de sua história, e que talvez lhe remetesse aos amores que nunca teve.
Alguém também há de lembrar que o velho de quando em quando revisitava em palavras o seu passado de meninice, onde corria pelas plantações dos vizinhos, onde andava de carroça com o pai, e onde contava para ninguém os seus sonhos nos finais de tarde. Agora, a música de Chico César se repete na vitrola, e o velho não é mais do que algumas memórias. Ele era um desconhecido. Ele morava no interior do Ceará. Amanhã é Carnaval na principal capital do país. É vida que renasce.
Yago Barreto
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